sábado, 15 de fevereiro de 2020

Estorietas espoletas

O príncipe

Era uma vez em um reino distante no tempo e no espaço, um jovem príncipe que foi preparado com todo o zelo por seus pais desde a mais tenra idade para viver e governar com sabedoria e justiça. Mal começara a falar e andar e já se via em constantes aulas com os mais inteligentes professores, velhos filósofos, astutos diplomatas e valentes guerreiros. O rei não media esforços em oferecer o que de melhor havia no reino e proporcionou-lhe detalhados e profundos conhecimentos. A mãe passou incontáveis horas explicando-lhe a importância e a nobreza dos sentimentos. Mas não teve jeito. No fim a biologia falou mais alto que a filosofia e o príncipe virou um sapo que saiu pulando atrás da primeira perereca que passou pela frente.


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O show não pode parar

Desde seus bisavós a família era proprietária do circo. Ela não ouviu o conselho, fruto da experiência de gerações, de não misturar amor e dinheiro e se apaixonou por um dos empregados, no caso o palhaço que por trás do sorriso maquiado e das roupas largas escondia um corpo atlético e uma fala galante. Talvez por ser a alma do artista a busca da admiração, após algum tempo descobriu que ele estava tendo um caso recente com a engolidora de espadas. Com o coração partido e o cérebro endurecido, planejou a vingança fazendo um seguro milionário que cobre acidentes no circo. Quer mais é ver o circo pegar fogo com o palhaço dentro.


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Penso, logo desisto

Viu pela janela um sol de rachar que não rachava nada e reparou que das rachaduras do teto caiam gotas de uma chuva seca. Fechou a janela que nem chegou a abrir, acendeu a luz e a escuridão invadiu o quarto. Ficou a ouvir a música do rádio desligado enquanto contemplava a linda moldura na parede sem nenhum espelho e suspirou para o vazio que estava cheio de si. Saiu correndo vagarosamente do cômodo e ao adentrar na sala vazia cheia de móveis, caiu em si machucando-se muito. Quando conseguiu se erguer novamente viu uma figura negra como a neve no quadro da parede que lhe virou as costas, sentindo no reflexo do brilho do seu olhar uma doce amargura. A razão se fez presente em sua ausência. Deu de ombros, pois não sabia como terminaria aquilo, uma vez que esqueceu como começou. 

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