Bento sempre foi metódico, desde que se entendia por gente. Ainda na infância já era conhecido por sua mania de organiza seus lápis de cor e canetinhas meticulosamente antes, durante e depois do uso. Suas tarefas de casa recebiam constantes elogios dos professores pelo zelo na confecção e apresentação. Na adolescência mantinha rígidos horários para os estudos e exercícios físicos, destoando dos vizinhos e parentes, mais espontâneos e menos eficientes do que ele.
Escolheu e foi aprovado – na primeira tentativa – na melhor faculdade de Direito da cidade onde morava. Já durante o curso destacou-se por suas pesquisas e trabalhos acadêmicos extremamente bem elaborados, tão detalhados quanto extensos (geralmente mais do que o recomendável). Terminada a faculdade, prestou concurso para juiz estadual e, novamente, foi aprovado na primeira tentativa. Ainda jovem, o agora "Doutor Bento" começou sua atuação no fórum e ganhou fama tanto pelo senso de justiça quanto pela demora no estudo de caso para a marcação da audiência e julgamento. Ele era moroso até mesmo para os usuais lerdos padrões do judiciário brasileiro.
Fazia questão de pesquisar não somente o histórico de jurisprudência de qualquer caso que fosse de sua responsabilidade, mas também todos os recursos judiciais eventualmente apresentados, a repercussão na imprensa – caso esta houvesse – e contratou um assessor unicamente para entrar em contato com os requerentes para que soubesse como a aceitação ou recusa de uma determinada sentença afetara a vida individual e familiar. Um verdadeiro trabalho de "arqueologia documental", se existisse tal modalidade ocupacional.
Tal modo de agir lhe valeu o apelido de "Bento Lento" entre os funcionários maledicentes e advogados descontentes. Em contrapartida, os simpatizantes da dedicação em promover um julgamento justo e imparcial deram-lhe a alcunha de "Bento Isento". Em determinado momento, um espirituoso funcionário de cartório deu-lhe o epíteto de "Esselentíssimo juiz" – numa corruptela do pronome de tratamento “Excelentíssimo” – que ganhou aceitação geral, pois reunia os prós e contras de desmedida meticulosidade por parte do magistrado.
Como "o Brasil não é um país sério" tal situação foi incorporada e até mesmo incentivada com a realização de "bolões" apostando nos prazos para que um processo fosse degustado pelo folclórico juiz.
Bento sabia de tais detalhes – e em parte gostava – pois lhe trazia uma individualização que percebia como valorização. Pegou-se, involuntariamente, prolongando o tempo em que ficava em silêncio durante as sessões de julgamento, com o queixo apoiado na mão fechada, numa pose reflexiva que lhe era habitual. Durante os processos, cada vez mais, passou a responder com perguntas enigmáticas, tal como um oráculo.
Afora estas ciladas da vaidade, Bento se dedica a melhorar, devagar e sempre, a sociedade onde vive. Desde jovem é assíduo doador de sangue, tornando-se também mecenas de uma instituição de caridade em sua cidade desde que recebeu seu segundo salário como magistrado. Aceita de bom grado os convites para participar de eventos beneficentes, colaborando ativamente na divulgação dos mesmos.
E assim segue Bento, em seu mundo bolha, num tempo e espaço próprios em seu divagar devagar, sem celeridade, mas com celebridade.
Escolheu e foi aprovado – na primeira tentativa – na melhor faculdade de Direito da cidade onde morava. Já durante o curso destacou-se por suas pesquisas e trabalhos acadêmicos extremamente bem elaborados, tão detalhados quanto extensos (geralmente mais do que o recomendável). Terminada a faculdade, prestou concurso para juiz estadual e, novamente, foi aprovado na primeira tentativa. Ainda jovem, o agora "Doutor Bento" começou sua atuação no fórum e ganhou fama tanto pelo senso de justiça quanto pela demora no estudo de caso para a marcação da audiência e julgamento. Ele era moroso até mesmo para os usuais lerdos padrões do judiciário brasileiro.
Fazia questão de pesquisar não somente o histórico de jurisprudência de qualquer caso que fosse de sua responsabilidade, mas também todos os recursos judiciais eventualmente apresentados, a repercussão na imprensa – caso esta houvesse – e contratou um assessor unicamente para entrar em contato com os requerentes para que soubesse como a aceitação ou recusa de uma determinada sentença afetara a vida individual e familiar. Um verdadeiro trabalho de "arqueologia documental", se existisse tal modalidade ocupacional.
Tal modo de agir lhe valeu o apelido de "Bento Lento" entre os funcionários maledicentes e advogados descontentes. Em contrapartida, os simpatizantes da dedicação em promover um julgamento justo e imparcial deram-lhe a alcunha de "Bento Isento". Em determinado momento, um espirituoso funcionário de cartório deu-lhe o epíteto de "Esselentíssimo juiz" – numa corruptela do pronome de tratamento “Excelentíssimo” – que ganhou aceitação geral, pois reunia os prós e contras de desmedida meticulosidade por parte do magistrado.
Como "o Brasil não é um país sério" tal situação foi incorporada e até mesmo incentivada com a realização de "bolões" apostando nos prazos para que um processo fosse degustado pelo folclórico juiz.
Bento sabia de tais detalhes – e em parte gostava – pois lhe trazia uma individualização que percebia como valorização. Pegou-se, involuntariamente, prolongando o tempo em que ficava em silêncio durante as sessões de julgamento, com o queixo apoiado na mão fechada, numa pose reflexiva que lhe era habitual. Durante os processos, cada vez mais, passou a responder com perguntas enigmáticas, tal como um oráculo.
Afora estas ciladas da vaidade, Bento se dedica a melhorar, devagar e sempre, a sociedade onde vive. Desde jovem é assíduo doador de sangue, tornando-se também mecenas de uma instituição de caridade em sua cidade desde que recebeu seu segundo salário como magistrado. Aceita de bom grado os convites para participar de eventos beneficentes, colaborando ativamente na divulgação dos mesmos.
E assim segue Bento, em seu mundo bolha, num tempo e espaço próprios em seu divagar devagar, sem celeridade, mas com celebridade.
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