sábado, 15 de fevereiro de 2020

Prudente

Prudente Comedido de Moderado desde muito novo era daqueles que sempre saia de casa com uma camisa leve, uma blusa e um guarda-chuva, pois o tempo podia mudar. Não abria a janela depois do banho para não adoecer com uma corrente de vento. Não praticava esportes para não se machucar e comia sempre devagar, para evitar congestão. 
Crescendo, casou-se com uma mulher que não era muito bonita, para não ser passado para trás, nem muito feia, para não atrapalhar nos contatos profissionais. Comprou sua casa longe de córregos e afastado das montanhas, num lugar nem muito baixo nem muito alto, para evitar inundações e desmoronamentos. As portas da frente e dos fundos da residência tinham dois ferrolhos e um olho mágico, e todas a portas internas tinham também um ferrolho e um olho mágico, para ter como se refugiar em qualquer cômodo no caso de um ladrão entrar em casa. Todas as janelas tinham duas grades do tipo que abre como sanfona, uma externa e outra interna, cada com dois cadeados, que era para proteger mas permitir a fuga em caso de incêndio. Aplicava todo seu dinheiro na caderneta de poupança, em três bancos diferentes, pois caso um deles falisse, tinha ainda outros dois para tocar a vida em frente.
E assim vivia Prudente, prudentemente, quando numa noite, estando a dormir o sono dos justos em sua cama, com sua esposa, cai sobre o seu quarto um avião monomotor que transportava, além do piloto, mais dois passageiros. Felizmente todas as pessoas envolvidas no acidente tiveram apenas pequenos ferimentos, com exceção de Prudente, que morreu na hora, esmagado pelo motor do avião, que soube-se mais tarde ter falhado por falta de manutenção no sistema de injeção de gasolina.

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