Os dois amigos se encontraram no habitual banco de praça próximo ao trabalho pouco antes do crepúsculo. É a hora predileta dos boêmios, e também a mais detestável. Aproxima-se a noite, com suas promessas e expectativas, mas também com sua dúvida se não seria melhor ir para casa, com seu banho, jantar e sono de horas certas. A escolha de ambos é quase sempre a mesma, movida pelo impulso do prazer rápido e pelo medo da morte vazia.
Escolhem um bar próximo, sentam-se em uma mesa, chamam o garçom, que dependendo do tempo de freqüência já compartilha de algumas intimidades, sentando-se à mesa quando o movimento fraco assim o permite.
Um deles suspira:
– Tenho muita sorte, me casei com uma mulher incrível! Há anos ela me espera em vão para o jantar. Sempre me recebe lá pelas duas ou três horas da manhã, com um Engov e um abraço, então nos deitamos e fazemos sexo, como dois amantes gratos um pela presença do outro. De manhã ela ajuda o despertador a me tirar da cama e fica dormindo enquanto tomo um banho frio antes do café para acordar o corpo, já que a alma fica dormindo até esta hora em que nos encontramos. Ela fica lá, tomando conta do nosso filho, conversando e jogando carta com as amigas. Quando alguém lhe diz não compreender como admite tal situação, ela diz: “Que posso fazer? Ele é assim. Quando o conheci, já sabia que era assim, e gostei dele justamente por isso. Se ele se tornasse um marido igual aos outros, deixaria de ser o homem que escolhi para mim.”
– Pois eu – queixou-se o outro – não dei a sua sorte, embora tenha tentado encontrá-la em muitas mulheres. Todas acreditaram que minha forma de viver era um problema de solidão, bastando arrumar a casa para que eu não quisesse mais sair de lá. Não viam em mim o que sou, mas o que elas gostariam o que eu fosse.
– Pois minha esposa fica numa alegria danada quando resolvo ligar para ele e digo: “Estou em tal lugar. Venha aqui e vamos beber juntos hoje.” Ela só fica inquieta quando por algum motivo resolvo mudar de bar. Nesse caso, não descansa enquanto não a convido para visitar meu novo ambiente e ela possa verificar com seus próprios olhos que o lugar não é frequentado por mulheres.
– Brindemos então à sua felicidade! – falou o outro. Ergueram os copos.
– E também à sua solidão – emendou o primeiro – que também contém tesouros a serem descobertos e explorados!
Continuaram a conversar, compartilhando suas vitórias e misérias enquanto a noite e a vida iam envelhecendo.
Por anos os mais sensíveis ou atentos poderiam procurar pelos dois amigos nas imediações daquela praça, onde ocasionalmente trocavam de bar pelos arredores do bairro, vivendo juntos o crepúsculo da vida.
Escolhem um bar próximo, sentam-se em uma mesa, chamam o garçom, que dependendo do tempo de freqüência já compartilha de algumas intimidades, sentando-se à mesa quando o movimento fraco assim o permite.
Um deles suspira:
– Tenho muita sorte, me casei com uma mulher incrível! Há anos ela me espera em vão para o jantar. Sempre me recebe lá pelas duas ou três horas da manhã, com um Engov e um abraço, então nos deitamos e fazemos sexo, como dois amantes gratos um pela presença do outro. De manhã ela ajuda o despertador a me tirar da cama e fica dormindo enquanto tomo um banho frio antes do café para acordar o corpo, já que a alma fica dormindo até esta hora em que nos encontramos. Ela fica lá, tomando conta do nosso filho, conversando e jogando carta com as amigas. Quando alguém lhe diz não compreender como admite tal situação, ela diz: “Que posso fazer? Ele é assim. Quando o conheci, já sabia que era assim, e gostei dele justamente por isso. Se ele se tornasse um marido igual aos outros, deixaria de ser o homem que escolhi para mim.”
– Pois eu – queixou-se o outro – não dei a sua sorte, embora tenha tentado encontrá-la em muitas mulheres. Todas acreditaram que minha forma de viver era um problema de solidão, bastando arrumar a casa para que eu não quisesse mais sair de lá. Não viam em mim o que sou, mas o que elas gostariam o que eu fosse.
– Pois minha esposa fica numa alegria danada quando resolvo ligar para ele e digo: “Estou em tal lugar. Venha aqui e vamos beber juntos hoje.” Ela só fica inquieta quando por algum motivo resolvo mudar de bar. Nesse caso, não descansa enquanto não a convido para visitar meu novo ambiente e ela possa verificar com seus próprios olhos que o lugar não é frequentado por mulheres.
– Brindemos então à sua felicidade! – falou o outro. Ergueram os copos.
– E também à sua solidão – emendou o primeiro – que também contém tesouros a serem descobertos e explorados!
Continuaram a conversar, compartilhando suas vitórias e misérias enquanto a noite e a vida iam envelhecendo.
Por anos os mais sensíveis ou atentos poderiam procurar pelos dois amigos nas imediações daquela praça, onde ocasionalmente trocavam de bar pelos arredores do bairro, vivendo juntos o crepúsculo da vida.
Baseado na crônica “A santa senhora”
Livro: “O homem na varanda do Antonio’s” Crônicas da boemia carioca nos agitados anos 60/70
Autor: José Carlos Oliveira
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